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Foto do escritorDaniel Amado

CONTRIBUIÇÕES DAS PICS PARA A MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE E A ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Atualizado: 30 de set. de 2021

O Sistema Único de Saúde é um sistema sem paralelo no mundo e uma conquista do Brasil, mesmo assim, considerando que ainda não se investiu politicamente e financeiramente para configurar o seu papel constitucional, ele pode e deve ser melhorado. Neste pequeno texto trago algumas reflexões de como a implementação das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) nos serviços da Atenção Primária à Saúde (APS) pode contribuir para um atendimento e serviço centrados na pessoa.

Estas reflexões surgiram de uma conversa minha com uma profissional de Medicina de Família e Comunidade (MFC). Essa conversa foi disparada a partir de vídeos que disponibilizei no meu canal do youtube (https://www.youtube.com/c/danielmieleamado/ ), onde abordo diversas questões ligadas às PICS, ao SUS e aos sistemas de saúde, indo do atendimento aos serviços centrados na pessoa. A partir desses vídeos, conversamos sobre alguns aspectos que quero compartilhar (Link dos vídeos https://www.youtube.com/watch?v=pNlB3ToBjRU, https://www.youtube.com/watch?v=0osvVCWJH5s).


As MFCs e as PICS

Em minha opinião a MFC traz grandes contribuições para a saúde coletiva, incluído para as PICS. A sistematização de uma abordagem familiar, a integração dos determinantes sociais da saúde como uma visão que impacte na clínica, a prevenção quaternária, entendendo que existe iatrogenia na intervenção em saúde, são alguns aspectos que considero muito importante. Estes aspectos contribuem para uma atuação melhor dos profissionais que atuam com as PICS, pois posso fazer um atendimento em acupuntura, por exemplo, sem levar em consideração as questões familiares. Outro exemplo, pode-se fazer oficinas de meditação para redução do burnout de trabalhadores de saúde, sem ter nenhuma reflexão sobre os processos de exploração do trabalho. Ou seja, em meu entendimento, a MFC contribui para os profissionais que atuam com PICS.

Da mesma forma, eu considero que as PICS trazem grandes contribuições para a MFC, pois ampliam o olhar sobre o processo de saúde-doença a partir de outras racionalidades em saúde. A Antroposofia, a Medicina Tradicional Chinesa ou o Ayurveda, por exemplo, vão trazer conceitos, dinâmica vital e diagnósticos específicos que contribuem para o olhar sobre o adoecer dos indivíduos.

No dia a dia das APS, os usuários trazem diversas questões que são consideradas “inespecíficas”, onde o profissional não consegue fechar um diagnóstico, contudo, nesta ampliação do olhar terapêutico, a partir destas racionalidades em saúde, passam a fazer sentido. E assim, é possível uma atuação terapêutica sobre esse sofrimento difuso.

A matriz de diagnóstico dessas racionalidades consegue integrar campos biológicos, emocionais, relacionais(sociais) e ambientais, que sabemos existir a partir da biomedicina, como questões “biopsicossociais”, no entanto, os mecanismos de atuação sobre estas questões são limitados a partir da nossa medicina convencional. Já em outras racionalidades, o mecanismo é descrito, existem terapêuticas, e “protocolos” de atuação, que assim, ampliam a capacidade resolutiva do profissional.

As matrizes de diagnóstico dessas racionalidades conseguem integrar campos que vão desde os biológicos, emocionais, relacionais (sociais), aos ambientais. Tais campos são reconhecidos por nossa medicina convencional e recebem uma designação genérica de questões “biopsicossociais”. Importante salientar que o arsenal terapêutico da medicina convencional para atuar sobre tais questões “biopsicossociais” é extremamente limitado. Em contraste com as outras racionalidades médicas citadas, em que o mecanismo é descrito, existem terapêuticas, e “protocolos” de atuação, ampliando a capacidade resolutiva do profissional.

Outro aspecto fundamental das PICS é na ampliação das opções terapêuticas dos serviços de saúde e dos profissionais da APS. Por exemplo, posso entender que um sujeito que está sendo atendido, necessita de expor suas angústias, sofrimentos e de compartilhar questões como o estresse e a pressão do trabalho, como sofrido por diversos profissionais de saúde durante a pandemia. A capacidade de escuta muitas vezes é limitada na APS, sobretudo pela demanda, e posso ter poucas ferramentas para lhe dar com essas questões. Neste contexto, ter uma oferta de terapia comunitária disponível no serviço, ou na rede, pode atender aquela necessidade de cuidado daquele usuário. Este “sofrimento”, por exemplo, pode estar gerando diversos outros problemas, como aumento da pressão, ansiedade, dores corporais etc. Assim, entender estas questões, e ter ofertas disponíveis, pode contribuir para que o profissional não prescreva medicamentos para hipertensão, a ansiedade e dores corporais.


Acolhimento em um serviço centrado na pessoa


No SUS avançamos na implementação da APS, todavia temos um grande gargalo nas unidades de saúde que são as consultas médicas, sobrecarregando esse profissional, em específico. E a indisponibilidade de profissionais médicos tem limitado a universalização da APS no Brasil. É verdade que parte dessa pressão tem extrapolado as atribuições dos médicos para as consultas de enfermagem, que passam a assumir protocolos dentro da APS, incluindo ações diagnósticas e de cuidados nos programas de saúde pública. No entanto, a enfermagem também se sobrecarrega, ainda mais, que na maior parte das vezes assume questões gerenciais dos serviços.

Neste sentido, toda a demanda que chega ao serviço, tenta ser direcionada para esses atendimentos, mesmo que se considere a urgência de cada caso etc. No entanto, ainda existe uma reflexão limitada, se as necessidades dos usuários, não poderiam ser atendidas de outras formas, ou a partir de outros fluxos, saindo de ofertas centrados em atendimentos individuais, e ampliando a atuação dos outros profissionais no fluxo da unidade pensando numa organização multiprofissional. O mais importante é entender que não temos que encaixar o usuário em nossa oferta, e sim, organizar a oferta a partir das necessidades dos usuários. Claro que temos as limitações do serviço e de cada profissional, mas temos que ter processos mais maleáveis, em que se levem em consideração as necessidades dos usuários em conjunto com as limitações de serviço de cada território, isto é, de serviços de centrados na pessoa. Este processo de organização pode se dar a partir do acolhimento.


Acolhimento em um Serviço Centrado na Pessoa


Alguns serviços com PICS como os Centros de PICS tem trazido uma experiência inovadora nos serviços de saúde. Nestes centros, o acolhimento é uma parte essencial do serviço, e a partir da escuta, se identifica as necessidades imediatas e não imediatas de cuidado de cada usuário. E deste ponto, já se abre para o usuário algumas possibilidades de cuidado entre as várias ofertas e profissionais da unidade, pensando não somente na queixa, mas a partir de um olhar ampliado, se pactua com o usuário um percurso terapêutico. Neste fluxo, a equipe multiprofissional pode ser o “primeiro” ponto de contato com o usuário. Permitindo, por exemplo, implementar ofertas de atividades coletivas e educação em saúde, que resolvem diversas questões de saúde. Desta forma, esse fluxo pode diminuir as necessidades de atendimento individual por parte da equipe mínima.

Caso haja a necessidade, durante o percurso terapêutico, o usuário pode passar pela consulta médica e/ou de enfermagem. Sendo que em cada etapa de cuidado, pelo qual o usuário passa, aprofunda-se na identificação e condução das necessidades de cuidado, indo além das queixas imediatas.

Ainda como seguimento, o usuário pode seguir em diferentes ofertas terapêuticas e educativas com o objetivo de empoderar os sujeitos no entendimento de suas necessidades de saúde, e o capacitando para práticas de autocuidado. Dessa forma, as PICS contribuem essencialmente no processo de autoconhecimento, e na aquisição de ferramentas para que os usuários desenvolvam esse autocuidado-apoiado.

Essas são algumas reflexões que pretendo aprofundar nos vídeos e em diálogos posteriores, que tal conversarmos no nosso fórum?






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